MISSÃO DE VIDA

Marcos Pontes
18 /03/2008

Uma das fases mais difícies da nossa vida acontece durante a adolescência. A despeito de todas as mudanças físicas, também temos uma grande escolha a ser feita: que carreira seguir?

Nesse processo de decisão é importante "conhecer sua missão de vida". Contudo, em primeira idéia, é difícil para um jovem de 17 anos, por exemplo, "conhecer a sua missão de vida". O que seria isso? Como seria uma maneira prática para esse jovem escolher uma carreira que seja alinhada com a sua “missão de vida” e que possa lhe trazer sucesso e satisfação pessoal.

A resposta para essas questões entra em aspectos muito individuais. Porém, de forma geral, alguns conceitos básicos, somados a um esforço consciente, sério e estruturado para pensar sobre o assunto, podem ajudar bastante a maximizar as chances de uma boa escolha.

Primeiro, observe que o que chamamos de “missão de vida” é a nossa interpretação de como as nossas habilidades, qualidades e talentos podem ser empregados de forma construtiva e positiva para que possamos realizar uma grande meta, definida basicamente pelos nossos valores pessoais, e que nos dará a satisfação pessoal de nos sentirmos úteis e realizados como seres humanos.

Agora, imagine a sua vida como uma escada. Ao nascer, você está em frente ao primeiro degrau. Só há uma escolha, encarar a vida, com todos os seus riscos e prazeres, e começar a subir. Os degraus são as nossas experiências, tudo aquilo que ganhamos durante nosso desenvolvimento pessoal ao estudar, ao adquirir mais conhecimento, encarar os desafios, tentar, arriscar e depois analisar realisticamente tanto os nossos sucessos como as nossas falhas. Todas essas coisas são elementos que servem para construir e subir esses degraus.

A “propulsão” da vida está no ciclo entre sentir necessidade de agir, seja por medo ou desejo, e sentir o prazer da recompensa.

O interessante para o contexto desse artigo é que, a cada degrau que subimos, a cada nova experiência, podemos enxergar um pouco além. Nossos horizontes se expandem, nossas possibilidades crescem. Somos mais capazes, sabemos mais, e devemos querer mais!

Ou seja, nossa “interpretação” do que seria a nossa “missão de vida” pode ficar inalterada ou ser alterada de três modos diferentes na medida que ganhamos mais um degrau, ou vencemos mais um desafio:

1. Expandir ou tornar-se mais detalhada na mesma direção (propósito, área) em que foi visualizada no degrau anterior;
2. Diminuir na mesma direção anterior, ou
3. Mudar “um pouco” de direção.

Observe que a alternativa mais saudável e natural é a alternativa 1. A possibilidade de ficar inalterada é a segunda opção mais natural. A alternativa 2 é negativa, e a alternativa 3 é geralmente ineficiente.

Assim, vemos que a nossa definição de “missão de vida” não é algo “escrito em pedra”. Sendo oriunda da nossa interpretação e apoiada nos nossos valores pessoais, ela depende de várias coisas. Ou seja, “armados” com novas habilidades e conhecimentos, interpretamos nossa missão de vida, quanto à sua forma e aplicação prática, de acordo com o nosso período de vida atual e as nossas experiências vividas (em que degrau você está, e quão longe você consegue ver).

Portanto, um adolescente tem, no seu contexto, a capacidade completa de visualização prática para interpretar a sua “missão de vida”, naquele período da vida. Na prática, isso é essencial para definir suas metas intermediárias e suas ações.

Ao jovem que ainda não sabe qual profissão seguir, eu o convidaria a fazer o seguinte:

• Sente-se quieto, confortável, por alguns 15 ou 20 minutos, sem interrupções de qualquer espécie.
• Feche os olhos.
• Concentre-se inicialmente apenas em sua respiração
• Imagine-se, por exemplo, flutuando sobre a Terra
• Sinta a liberdade de ir para qualquer lugar, estar em qualquer tempo, ser você, completamente.
• Sinta o quanto você é importante para esse planeta.
• Sinta o quanto você é especial e único.
• Reflita sobre as respostas sinceras às seguintes questões. São para você. Não se preocupe com mais ninguém. Sem influências das opiniões de qualquer outra pessoa: pais, amigos, qualquer um! Lembre-se, você é especial, você é livre..

o Afinal, por que você está nesse planeta?
o Que tipo de comportamento e/ou qualidades, são realmente importantes para você e te deixam muito feliz (mais “para cima”)?

• Agora, imagine que dez anos se passaram. Você já é um profissional...uma pessoa de sucesso e feliz.

o O que mais lhe agrada fazer na sua rotina diária nessa sua vida profissional de enorme sucesso e felicidade?
o Se existisse uma máquina do tempo e você, “10 anos mais velho”, voltasse para este exato momento para falar com “o você de hoje”, o que “você mais velho” elogiaria em suas qualidades e decisões dos próximos dez anos que o levaram a ser essa pessoa de sucesso que você “mais velho” é?
• Aproveite um pouco mais essa sensação boa. Sinta o gosto da satisfação pessoal e profissional.
• Abra os olhos.
• Coloque todas as suas idéias em um papel e analise as profissões que podem ajudá-lo a conquistar esses passos “para chegar lá!”.
• Procure conhecer a respeito de cada profissão que mais interessar; converse com pessoas que trabalham na área; observe o que a profissão oferece em termos de opções de trabalho, salários, etc.

Observe que este é um processo de decisão que não se resolve, normalmente, em apenas um exercício. Faça esse exercício diariamente até definir claramente, em sua mente, o “filme” de você trabalhando e vivendo feliz em uma determinada rotina profissional.

Finalmente lembre-se: você não é limitado a uma só carreira em sua vida! Você é jovem e pode aprender muita coisa. Muitas atividades em diversas áreas. Não tenha medo de tentar! Esta é uma das melhores coisas da vida!

 
Marcos Pontes
Colunista, professor e primeiro astronauta profissional lusófono a orbitar o planeta, de família humilde, começou como eletricista aprendiz da RFFSA aos 14 anos, em Bauru (SP), para se tornar oficial aviador da Força Aérea Brasileira (FAB), piloto de caça, instrutor, líder de esquadrilha, engenheiro aeronáutico formado pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), piloto de testes de aeronaves do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), mestre em Engenharia de Sistemas graduado pela Naval Postgraduate School (NPS USNAVY, Monterey - CA).
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